Os silêncios lá fora não são ouvidos. Automóveis soam normalidade. A quem querem enganar? Tá, não precisa dizer. Não são só eles. Certo? Todo dia um pouquinho mais. Os pratos já lavei. A cama arrumei. As plantas nunca estiveram tão bem hidratadas e verdinhas. Estou limpa e alimentada todos os dias às 07h. E cadê meu silêncio? Antes disso tudo acontecer, eu conversava comigo e pedia tempo. Desejava pelo tempo. Onde nele eu pudesse respirar. Pensar. A vida não era minha. Eu sabia disso. E ardia o desejo de tê-la um dia. Dia. "Tempo que transcorre, em determinada região da Terra, entre o instante do nascer do Sol e do seu ocaso". Pesquisei no dicionário. Olho pela janela hoje e ele me parece um não sei o quê. Igual ao lençol que pela manhã eu amasso e guardo sem dobrar. Teve um dia em que acordei otimista. Mudei de lugar os objetos da sala. E pratiquei exercícios e também dancei. Na sala de novos ares. Olhei pro alto. O qu
A falta de habilidade no primeiro beijo oferece a duas pessoas as mais variadas sensações. Na língua parecem habitar todos os espinhos de um tal porco. Na pele, anúncio do caos, gotas de suor brotam por toda parte. As mãos querem, mas não sabem onde tocar. Os olhares tropeçam seguidamente de olhos em olhos; de olhos no chão ou num ponto fixo qualquer. Mas, quando ele realmente acontece, somos tomados de seguida sensação de quero mais. A segunda-feira começa a duras penas. O corpo pede, melhor, suplica a volta do domingo. Um mau humor inevitável dá o recado: - Melhor ficar na cama, conselho gratuito a essa hora, só o meu mesmo... Mas o sol insiste em sorrir da forma mais ingrata que pode. Daí, chegamos ao final do dia e percebemos que o sorriso descompromissado de uma certa criança por entre os ombros da mãe e aquele aluno te pedindo uma revisão no trabalho de português (ainda que você seja de história) nos resgataram do que poderia ser só mais uma segunda. Te incomo
Quando chuva eu era criança. A gente saía da escola correndo e chegava em casa parecendo pintinhos. A mãe nos dizia, tira essa roupa molhada que é pra não adoecer! Quando chuva a gente obedecia melhor a mãe porque tudo ficava mais lento e dava até vontade de obedecer. Aquele friozinho esquentava ainda mais o coração. Quando chuva ela gritava da cozinha, venham comer, a comida tá na mesa! Mas, quando chuva, a luz também ficava preguiçosa e ia embora. Era quando a mãe enchia a casa de velas e tudo ficava melhor. Os trovões davam medo, mas a mãe tava lá e nada podia nos acontecer. O telhado mostrava sua gastidão. Aquele monte de buraco fazia a casa ficar toda ornamentada. Era um tal de balde aqui, bacia ali... Quando chuva até o almoço ficava mais gostoso. Aquele cheirinho de terra molhada acariciava a pouca carne da penela. E não tinha problema, no fundo no fundo, a gente queria mesmo era o momento. Éramos nós três. Eu, o irmão menor e a mãe. Quando chuva depois do almoço a g
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