tag:blogger.com,1999:blog-48575875872278384122024-03-13T15:40:50.225-03:00"... de libre vuelo"O comum impresso em palavrasNatália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.comBlogger52125tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-12437615666906220242020-04-06T08:48:00.001-03:002020-04-07T16:13:44.832-03:00Tá tudo amassadoOs silêncios lá fora não são ouvidos.<br />
<div>
Automóveis soam normalidade.</div>
<div>
A quem querem enganar?</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Tá, não precisa dizer. Não são só eles. </div>
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Certo?</div>
<div>
Todo dia um pouquinho mais.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Os pratos já lavei. A cama arrumei. </div>
<div>
As plantas nunca estiveram tão bem hidratadas e verdinhas.</div>
<div>
Estou limpa e alimentada todos os dias às 07h.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
E cadê meu silêncio?</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Antes disso tudo acontecer, eu conversava comigo e pedia tempo.</div>
<div>
Desejava pelo tempo.</div>
<div>
Onde nele eu pudesse respirar. Pensar.</div>
<div>
A vida não era minha. Eu sabia disso.</div>
<div>
E ardia o desejo de tê-la um dia.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Dia.</div>
<div>
"Tempo que transcorre, em determinada região da Terra, entre o instante do nascer do Sol e do seu ocaso". Pesquisei no dicionário.</div>
<div>
Olho pela janela hoje e ele me parece um não sei o quê.</div>
<div>
Igual ao lençol que pela manhã eu amasso e guardo sem dobrar.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Teve um dia em que acordei otimista. Mudei de lugar os objetos da sala.</div>
<div>
E pratiquei exercícios e também dancei. Na sala de novos ares. </div>
<div>
Olhei pro alto. O quadro tava torto. </div>
<div>
E veio tudo abaixo quando eu tentei ajeitar. </div>
<div>
O chão ficou repleto de cacos de otimismo. Os varri cuidadosamente e pus numa sacola.</div>
<div>
O lixo ainda não joguei fora.</div>
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<br /></div>
<div>
Um romance na estante falava de um conceito: <i>Bildungsroman</i>. Dizia de características de quando um romance cria um novo estilo, de transição. Onde a história do livro tem uma esfera transformadora, inspiradora. Acho que era isso. </div>
<div>
A história transformava os personagens e, assim, também ela sofria mutação.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
A autora ia gostar de saber que eu usei o conceito. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Fico me perguntando se isso tudo que está acontecendo ao mundo não é culpa minha e meu pedido da vida dar um tempo.</div>
<div>
E sinto o egoísmo secar a garganta. </div>
<div>
O tempo entrou em minha casa e não quer sair mais.</div>
<div>
Chegou autoritário e me segue em todo lugar que vou. Eu só queria saber como podemos conversar.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Deve ter muita gente querendo o mesmo.</div>
<div>
Acho que uma hora a gente consegue. </div>
<div>
Que nem no romance onde aprendi o conceito de escrita difícil.<br />
<br />
<br />
<i>Por Natália Freitas</i></div>
<div>
<br /></div>
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<br /></div>
<div>
<br /></div>
Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-32060215450793709912019-09-16T12:57:00.001-03:002019-09-16T13:49:23.376-03:00Em relevoCalma sensação perturbadora de paz.<br />
<br />
Faria sentido pra ela? Pensara só por uns instantes.<br />
Os olhos mal abriram e aquilo lá nela.<br />
<br />
Vinha a se preparar para a guerra.<br />
Para os dias estranhos que teimavam em permanecer.<br />
Para o caos ordenado.<br />
Para aquela música de um Ipiranga nada plácido.<br />
<br />
Mas não para a paz.<br />
<br />
Dela até enternecia pensar. Só que não vinha.<br />
Suava.<br />
Custava.<br />
E não vinha.<br />
<br />
Havia corrido tanto do ódio que desaprendera sobre amor.<br />
Era possível?<br />
Só agora, abrindo os olhos, percebera.<br />
Que também ela estava em bombardeios.<br />
As costas lhe pesavam a rotina do (des)padrão.<br />
<br />
Continuava aguerrida. Ela sabia.<br />
Mas lhe doía buscar todo dia o colorido no cinza.<br />
Esgotado estava seu corpo.<br />
E do espírito não tinha certeza se ainda lhe havia.<br />
<br />
Mas era soldada. Repetia todo dia.<br />
Sua mãe foi.<br />
Outras também.<br />
<br />
E um NÃO rejeitava o tudo posto.<br />
NÃO.<br />
NÃO podia ser esse seu destino.<br />
Nem o das outras.<br />
<br />
Afinal, Deus, elas eram força. Sabiam.<br />
Mas não queriam.<br />
<br />
O corpo novamente lembrava daquele peso.<br />
<br />
Que ela não sabia de onde vinha.<br />
Ou quando havia começado.<br />
E qual delas levantara o primeiro saco nas costas?<br />
<br />
Sabia do peso.<br />
De sentir o peso.<br />
<br />
E até pensara um dia.<br />
<br />
A paz deve ser boa.<br />
Ela deve dar vontade de chocolate.<br />
De sentir o sol. O mar.<br />
De aninhar. Ninar.<br />
<br />
O tempo pra isso não veio.<br />
Lembra? era soldada.<br />
Carregava peso.<br />
<br />
Quilos de pedra.<br />
Ou de esperança.<br />
Pouco importava.<br />
Nesses tempos, carregar esperança também doía.<br />
<br />
Fez isso tudo e voltou.<br />
Permitiu-se sentir aquilo que lhe era estranho.<br />
Paz?<br />
<br />
Soou-lhe como uma estranha sensação de <i>eu posso</i>.<br />
E parecia ouvir vozes.<br />
E eram.<br />
Das outras.<br />
Que continuam a lhe empuxar.<br />
<br />
<i>Por Natália Freitas</i>Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-25078860360218797272019-08-12T17:37:00.001-03:002019-08-13T08:02:48.647-03:00EcosPara pensar é preciso desembarulhar.<br />
Volta e meia, me pego assim, lotada de vozes inquilinas.<br />
E me reconheço apátrida de mim.<br />
<br />
Fazem tanta zuada elas.<br />
Ouvem músicas de que não gosto e sem fone de ouvidos.<br />
<br />
E me assusta. Ele. O silêncio.<br />
<br />
No meu medo, também o imagino cheiroso, sorridente. Bom de abraçar e chamar para um café.<br />
<br />
Do meu silêncio ainda não sei.<br />
Anteotem até pedi ao mundo para falar mais baixo. Ou até mesmo dormir um pouco.<br />
Não me obedeceu.<br />
<br />
Imagina só:<br />
Eu ficaria com a praia vazia e as ondas a chacoalhar.<br />
Haveria uma rua. Um cachorro também.<br />
Sobre um banco, um livro aberto naquela página abandonada há tempos.<br />
<br />
E sentaríamos. E conversaríamos. Eu e o silêncio.<br />
<br />
<br />
<i>Por Natália Freitas</i>Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-48117389978939357342019-08-03T11:09:00.001-03:002019-08-03T11:30:20.495-03:00(des)venenoExtraviada via<br />
Estragada<br />
<br />
E o viado<br />
lia<br />
<br />
Normas de inconduta<br />
<br />
Ia<br />
a contragosto<br />
<br />
E de resto o gozo<br />
uma puta raiz anal(isar)Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-63107657452202902012018-12-11T21:02:00.001-03:002019-09-15T20:43:13.991-03:00Obedeça<br />
Vá embora se não conseguir lidar com minha chatice<br />
E meus cabelos inequivocamente lindos<br />
Se não souber me abraçar quando eu tentar fazer de você meu ninho<br />
Vá se não entender minha fúria nos dias turvos<br />
Se não conseguir ler a mim, poesia dadaísta<br />
Bata a porta se eu continuar sendo mais do que você suporta<br />
<br />
Mude de calçada quando me vir e suas mãos anunciarem seu permanente amor<br />
Desligue seu celular. Ele também sabe pra quem você quer ligar<br />
Jogue fora aquela carta que não te escrevi. Você não a entenderia<br />
Me arranque dos seus sonhos se puder<br />
E esqueça que seu melhor sorriso já fui eu<br />
<br />
Não levante hoje buscando meu rosto preguiçoso<br />
Engana-se!<br />
Seu lugar nunca foi dentro de mim<br />
<br />
Abandone o desejo daquele filme que veríamos esse sábado<br />
Fique sem graça quando nossos amigos te disserem "vacilão"<br />
Porque é precisamente isso!<br />
<br />
Eu daqui farei o mesmo<br />
Já troquei os lençóis e aquela almofada sua de lugar<br />
Uma nova playlist. E novo lugar na cama<br />
E sabe sua camisa preferida? O cachorro mijou<br />
O sorvete agora é de flocos. Você odeia<br />
<br />
Amanhã?<br />
Eu sei, será um novo antigo dia<br />
<br />
<i>Por Natália Freitas</i><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-33598473447721903222018-09-11T10:00:00.001-03:002018-12-11T21:20:05.503-03:00Bem de altitudeAprendi a voar desde muito cedo.<br />
<div>
E, de tempos em tempos, preciso me puxar pelos pés.</div>
<div>
Por vezes esqueço, e me dano a subir, subir, subir.<br />
<br />
<i>Por Natália Freitas</i></div>
Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-90657975613281531392018-09-11T09:56:00.003-03:002019-07-16T07:38:13.506-03:00LínguaMulher, substantivo que bem poderia ser verbo.<br />
<div>
Ou advérbio de intensidade.</div>
<div>
Para ambos, mulher seria signo para dizer sobre aquilo que é vívido, nobre, intenso, exemplo, voraz, doce, sábio, belo.</div>
<div>
Mulher movimento, mulher ação.</div>
<div>
Qualidade de ser mulher.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
"Mulheriei o dia e ele me mulheriou de volta"</div>
<div>
"Estudei mulhermente hoje"</div>
<div>
"Mulheriaram Paris num só gole "</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Na próxima reforma linguística, irei pessoalmente reivindicar tal inclusão. Que, de tão digna, vai deixar as aulas de português mais mulher.</div>
<div>
Poetas terão um novo recurso para materializar em letras a explosão de sentimentos ainda sem título.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Mulheriemos!<br />
<br />
<i>Por Natália Freitas</i></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br />
<div>
<br />
<div>
<br /></div>
</div>
</div>
Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-32826993780305458952018-07-17T21:36:00.002-03:002018-12-11T21:20:48.581-03:00LocatárioVolta.<br />
Você esqueceu de se levar de dentro de mim.<br />
<br />
<i>Por Natália Freitas</i>Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-59170791528810197612018-04-18T20:09:00.001-03:002019-07-16T07:39:58.560-03:00Sinopse<b>Ato I</b><br />
<b><br /></b>
Antes era a brecha.<br />
Intermediada pelo caos.<br />
Um assombro de paz.<br />
E uma janela aberta.<br />
História não escrita.<br />
Gestos gastos.<br />
Uma esquina.<br />
Chão pisado de pedra sabão.<br />
Seis casas até o céu da amarelinha.<br />
Pulou uma.<br />
Outra.<br />
E outra.<br />
Chuva que ganhou o jogo.<br />
Escorre giz.<br />
Escoooorre.<br />
<br />
<b>Ato II</b><br />
<b><br /></b>
Faxina no armário.<br />
Levou o que cabia no tempo.<br />
Daquela bolsa velha, apenas um zíper pra tragar as expectativas.<br />
Um amor de querer:<br />
pular, beijar, amassar, molhar.<br />
História mal escrita.<br />
Varreu os cacos.<br />
Pra debaixo do tapete.<br />
Canção ensaiada de não.<br />
<br />
<b>Ato III</b><br />
<b><br /></b>
Ela não era só forte.<br />
Não queria. Não podia.<br />
Foooorte.<br />
Era aquilo tudo. Aquilo pouco. Aquilo muito.<br />
E era.<br />
Também, só ela.<br />
Estava quase lá. Sendo dela.<br />
E o mundo disse:<br />
-pera aí, tá indo aonde?<br />
<br />
<b>Ato IV</b><br />
<b><br /></b>
Estava ali no meio do salão.<br />
Rodopiava ... piava.<br />
Não lhe era difícil sentir a gota de suor que escapava pelas costas.<br />
A saia giraaaava. Olhos fechados. Sentia.<br />
Tudo podia ser assim, tão simples.<br />
Um corpo.<br />
Movimento.<br />
Dizem que equilíbrio é se movimentar pra um lugar qualquer.<br />
Importa mais o caminho.<br />
<br />
<b>Ato V</b><br />
<br />
Só dançou.<br />
Só foi.<br />
<br />
<i>Por Natália Freitas</i><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<div>
<br /></div>
<br />
<br />
<br />Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-42574639177882217882018-02-10T14:54:00.000-03:002018-02-11T09:05:43.447-03:00Um risco <br />
há um encanto em suas linhas<br />
um punho que apruma e ruma ao novo<br />
giro e mais giro. e outro giro. tu te mostras<br />
extrapola os teus círculos. posso sentir<br />
caligrafia obedecida<br />
voz empostada<br />
sobraram as brechas<br />
preenchidas pelas deformidades<br />
avulsas<br />
incoerentes<br />
tangentes<br />
de um mesmo caminho solitário<br />
que une a todas nós<br />
somos letra pra fazer poema<br />
somos alfabeto pra fazer revolução<br />
<br />
<i>Por Natália Freitas</i><br />
<br />Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-59842492125200752102018-01-28T12:15:00.001-03:002019-07-18T16:21:01.819-03:00Cabrita solta<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Há
tantas elas em mim<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Negras
há<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Indígenas
também<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Há
tantas elas em mim<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Amasiadas<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Largadas<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Amadoras<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Rasgadas<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Sabedoras<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Há
tantas elas em mim<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">E
por todo lugar que passo <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Uma
delas tá ali<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Em
dia de sol danado<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Solta
o aço dos dentes <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Há
tantas elas em mim<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Passeia
molhada e descalça<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">De
ventre esguio e cabelos maremotos<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Há
tantas elas em mim<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Saiu
sozinha na madrugada<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Quebrou
regras, vielas<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Ergueu
o copo limpo questionável<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Brindou
à morte, aos orixás, à vida kalunga<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Há
tantas elas em mim<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">E
não há nenhuma</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Que
detenha<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Explique<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Defina<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Nesse
mundo todo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Quem
delas mais assobia:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;">Muié,
eu to aqui<b style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></b></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><br /></span>
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><span style="font-family: "times new roman"; text-align: start;"><i><br /></i></span></span>
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><span style="font-family: "times new roman"; text-align: start;"><i>Por Natália Freitas</i></span></span></div>
Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-66535427791428554872017-10-22T15:35:00.001-03:002018-02-11T09:08:00.228-03:00GuerrasEstou agora numa leitura.<br />
Sobre um tempo de guerras e de pessoas costurando dignidades.<br />
Estou agora absorta em mim. O livro já está sobre o colchão e eu em ti.<br />
Não é possível, disse-me o tempo. É urgente, disse-me a memória.<br />
Ela vagou sobre mim. Abriu uma trincheira insólita.<br />
<br />
Vejo meu corpo deitado. Estou molhada da lama. E olho para o céu.<br />
Uma vontade dilacerante de te contar por onde andei esses anos.<br />
A razão me pune. Diz pra eu ficar muda e intacta.<br />
A lama continua a umedecer minhas costas e cabelos.<br />
E eu agora só queria te contar cada página desse livro, como nos velhos tempos.<br />
A razão me chama tola. Me deixa de castigo, ali.. com o corpo úmido de lama.<br />
Então me viro. Puxo o lençol e fecho os olhos.<br />
Outro bombardeio.<br />
<br />
<br />
<i>Por Natália Freitas</i>Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-2556130282341223742016-09-26T20:35:00.001-03:002018-10-01T15:40:28.685-03:00ID essênciaÁgua. Chaleira. Café.<br />
<div>
Ebulição. </div>
<div>
Camomila. Água. Chá.</div>
<div>
Transição.</div>
<div>
Sampa. Sopro. Pulmão.</div>
<div>
Poluição.</div>
<div>
Catavento. Ar. Criança.</div>
<div>
Distração.</div>
<div>
Corpo. Velhice. Morte.</div>
<div>
Evaporação.</div>
<div>
Casa. Imagem. Memória.</div>
<div>
Talhação.</div>
<div>
Caderno. Palavras. Tempo.</div>
<div>
Deglutição.</div>
<div>
Pés. Mar. Felicidade.</div>
<div>
Coração.<br />
<br />
<br />
<i>Por Natália Freitas</i></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-43397752918810155672016-03-27T12:08:00.001-03:002018-02-11T09:10:17.629-03:00Memória, a paga do tempo- Eu rasgaria o tempo assim pudesse!<br />
- O tempo não, a lembrança dos que dele lembram.<br />
<br />
(...)<br />
<br />
Vejo uma rua.<br />
Sessenta e quatro ladrilhos a me apontar que o esgoto ainda fede.<br />
<br />
(...)<br />
<br />
Baco treme em risos e avisa a Zeus que a composição desta estória está vermelha de seus melhores vinhos.<br />
<br />
(...)<br />
<br />
Direcionam ao meu front canalhices de toda ordem. E até me fazem crer que a minha história anda atordoada, esquizofrênica.<br />
<br />
(...)<br />
<br />
E lhes respondo: Sim. Na minha esquizofrenia, ouço vozes de um passado expurgado com sangue, silêncio e dor.<br />
<br />
(...)<br />
<br />
E a minha história, meu caro, agora acende um cigarro, respira fundo e espera as cortinas se abrirem para o espetáculo recomeçar!<br />
<br />
<br />
<i>Por Natália Freitas</i><br />
<br />
<br />
<br />Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-74265430332517025382016-01-16T12:15:00.000-03:002019-07-16T11:26:25.563-03:00Extrema(zia)<div class="MsoNormal">
Andei parada na inobservância dos tempos</div>
<div class="MsoNormal">
Não quis entrar</div>
<div class="MsoNormal">
Perdi-me nos aléns das brechas asiáticas</div>
<div class="MsoNormal">
O alento escuro esfriou a tinta</div>
<div class="MsoNormal">
Não quis entrar</div>
<div class="MsoNormal">
Poesia perdera-se no meu sertão molhado</div>
<div class="MsoNormal">
Havia incômodo naquelas transparentes páginas impressas</div>
<div class="MsoNormal">
Não quis entrar</div>
<div class="MsoNormal">
Consultei astros de toda ordem<br />
... ah, aquela linha! era
minha</div>
<div class="MsoNormal">
Só depois descobrira!</div>
<div class="MsoNormal">
(...)</div>
<div class="MsoNormal">
Rasguei meu veto</div>
<div class="MsoNormal">
Lambi letras em regras tortas</div>
<div class="MsoNormal">
E quis entrar<br />
<br />
<br />
<i>Por Natália Freitas</i></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-72857243183952272752014-05-30T06:56:00.002-03:002018-02-11T09:13:04.027-03:00O desfazendo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Era o sol que se abria</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
rasgando o dia de hoje de sua agenda.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
- Aai, aquela sintonia... de cheiros, cores e sons...</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Só por hoje, para o dia de hoje, iria desfazer.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Desfazer o arquiteto, que arquitetou que tudo tinha que ser arquitetado.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Desfazer as lições de casa, culpadas pelas horas de brincadeiras perdidas.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Desfazer os acertos, porque os erros são mais aprazíveis. Nos rasgam os joelhos e deixam cicatrizes em belos desenhos.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Mais tarde, quando operada toda a desfazança, ela sonharia com um mundo onde crianças pequenas, crianças grandes e, até lesmas, aguardariam com ansiedade o nascer do sol.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Da mesma forma, ficariam elas, todas elas, bem quietinhas a olhar a dança do esconde desse velho amarelo.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i style="text-align: start;">Por Natália Freitas</i></div>
<br />Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-28283053607454817222014-04-13T11:51:00.003-03:002019-07-16T11:30:39.244-03:00Quando chuva<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
Quando chuva eu era criança. A gente saía da escola correndo e chegava em casa parecendo pintinhos.<br />
A mãe nos dizia,<i> tira essa roupa molhada que é pra não adoecer!</i><br />
Quando chuva a gente obedecia melhor a mãe porque tudo ficava mais lento e dava até vontade de obedecer. Aquele friozinho esquentava ainda mais o coração.<br />
Quando chuva ela gritava da cozinha, <i>venham comer, a comida tá na mesa!</i><br />
Mas, quando chuva, a luz também ficava preguiçosa e ia embora. Era quando a mãe enchia a casa de velas e tudo ficava melhor. Os trovões davam medo, mas a mãe tava lá e nada podia nos acontecer.<br />
O telhado mostrava sua gastidão. Aquele monte de buraco fazia a casa ficar toda ornamentada. Era um tal de balde aqui, bacia ali...<br />
Quando chuva até o almoço ficava mais gostoso. Aquele cheirinho de terra molhada acariciava a pouca carne da penela. E não tinha problema, no fundo no fundo, a gente queria mesmo era o momento.<br />
Éramos nós três. Eu, o irmão menor e a mãe.<br />
Quando chuva depois do almoço a gente dormia, e como era bom aquele sono...<br />
Quando chuva a gente acordava preguiçoso, pulava pro sofá coçando os olhos e ia ver o filme da tarde.<br />
Depois disso tudo, a chuva dava adeus e a mãe gritava, <i>vá comprar o pão e leve seu irmão!</i><br />
Quando chuva a vida se apresentava terna assim: de amor e de bocejos.<br />
<br />
<br />
<i>Por Natália Freitas</i>Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-67154425479874894442014-01-14T11:01:00.002-03:002019-07-16T11:47:41.574-03:00Pulso<br />
<div style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;">
</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span id="goog_1281990674"></span>O escuro por não suportar o claro</div>
<div style="text-align: justify;">
Descer degraus por não conseguir subi-los</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É a mente confrontada pelo espírito</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
... como que um martelo à parede</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
... e ela cruzou mais uma rua </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Danou-se na danação do dia</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
E por lá ficou</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
O corpo eletrizado</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
E um pulso infeliz que não descansava-lhe os ouvidos</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Ouve?</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Mãos suadas, boca seca</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Era o momento oportuno para uma dança</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Tomou os pensamentos pelos braços, fechou os olhos e dançou</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
E o vento soprou</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
E o sol ardeu</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
E o chão rasgou-lhe as solas dos pés</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Sangrou</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Chorou, chorou, chorou</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
As lágrimas secaram em seu rosto</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
(...)</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Ah, aquela música... </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
(...)</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
E o sopro soprou-lhe maresia</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Agradeceu</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Bebeu</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
E devolveu ao mundo um sorriso vertiginoso. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i style="text-align: start;">Por Natália Freitas</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-35886249451305405922013-12-04T12:27:00.000-03:002018-02-11T09:27:59.197-03:00Lastro da escrita<br />
<span id="goog_616653041"></span><span id="goog_616653042"></span><span id="goog_616653043"></span><span id="goog_616653044"></span><span id="goog_616653045"></span><span id="goog_616653046"></span><span id="goog_616653047"></span><span id="goog_616653048"></span><span id="goog_616653049"></span><span id="goog_616653050"></span><span id="goog_616653051"></span><span id="goog_616653052"></span><span id="goog_616653055"></span><span id="goog_616653056"></span><br />
<div>
Tic-tac. Tic-tac, avisam-nos os relógios todos os dias.</div>
<div>
Ao invés disso, eles deveriam dizer: menos um, menos um, menos um.</div>
<div>
Menos um de tudo. Do tempo que transpiramos. Da distância de coisas, pessoas e pensamentos.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
(...)</div>
<div>
Buzinas irritadas, transito infernal. Todos cheiram a formol.</div>
<div>
Prédios são erguidos, enquanto outros teimam por desejar o chão.<br />
<br /></div>
<div>
(...)</div>
<div>
Aparelhos eletrônicos nos dizem a hora de levantar, quanto comer, correr, beijar, amar...</div>
<div>
<br /></div>
<div>
(...)</div>
<div>
Láááá longe. Em algum lugar dessa vastidão que é o mundo. Existe um eu. Eu que viveu e vive tentando se encaixar. Encontrar aquela casa de árvore feita de madeiras de demolição. Um lugar no mundo. Um estar no mundo e em si.<br />
Estou agora sentada escrevendo e refletindo sobre o que li antes do almoço. Leituras que, espero eu, sirvam para alimentar minhas próximas linhas acadêmicas.<br />
Mas eis que o velho incômodo bate à porta e resmunga:<br />
- É isso que desejas? É isso que te define?<br />
<br />
(...)<br />
E sou obrigada a mais uma vez parar para pensar. Isso! Agora mesmo, enquanto escrevo à você.<br />
<br />
(...)<br />
Perguntas torpes? Não. Diria, indigestas. E me obrigam a filosofar por dentro da minha vulgar existência.<br />
Paira sobre meus pensamentos uma nuvem e dela caem símbolos, categorias, padrões. São minutos olhando para o alto. Só vendo aquelas lógicas palavras, e lógicas, lógicas...<br />
<br />
(...)<br />
Acho que estou chegando ao final de tantos questionamentos de ordem individual. Concluo apenas que, embora me preparando para retornar à vida acadêmica, cada vez mais meu mundo é o das palavras, da inscrição de histórias de comuns, da tecitura de ideias. Mas ideias elaboradas pelo meu estar no mundo. Sem imposição ou regras.<br />
<br />
(...)<br />
Definitivamente, o meu estar no mundo é o estar do que sou quando escrevo.<br />
<br />
<br />
<i>Por Natália Freitas</i></div>
<div>
<br /></div>
Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-24243621984301076432013-11-15T14:08:00.002-03:002019-07-16T11:53:22.604-03:00Folha que cai, resquícios de um tempo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<br /></div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Não adiantava.</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Poderia tentar se segurar mais uma vez, mas não adiantava.</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
O vento soprava-lhe o peito com tanta força que ela percebera.</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Era chegada a hora.<br />
<br /></div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Nos seus anos de folha, todos haviam lhe contado que o fim seria esse. </div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Um galho seco. Um elo desfeito. E um voo para o chão.</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
E lá se foi ela.</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Bailando pra lá e pra cá.</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Pra lá e pra cá...<br />
<br /></div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Mas o que ninguém contara era o percurso.<br />
<br /></div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Estava ela, uma folhinha atrevida tentando voar diferente, ainda que às folhas, em seu fim, só coubessem o aceite de cair, murchar, secar e sumir.</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Por um instante ela jurara sentir que um lindo bailarino tomara-lhe os braços para uma última dança.</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Aceitou sem pestanejar e lá se foi.<br />
<br /></div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
A plateia se fazia presente. O sol brilhava como nunca e olhá-lo ao cair era ainda mais ofuscante. Mais parecia que seus raios a abraçavam para proteger-lhe da futura queda.<br />
<br /></div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Foi então que ela pois-se a relembrar.</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Das brincadeiras com as outras folhinhas quando criança; Daqueles frutos pesados que mais pareciam quererem levá-las mais cedo ao chão.</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
E lembrara que as folhas adultas diziam que uma folha cai porque não mais trabalha com eficiência. Apresenta manchas e não embeleza.<br />
<br /></div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Foi então que decidiu: </div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
- Cairei de pé. </div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
- Fui obrigada a filtrar o ar indigesto de Guerras, Ditaduras e Democracias descaradas.</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
- Ajudei a fazer sombra para desabrigados e casais apaixonados que em minha árvore se encostavam.<br />
<br /></div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Continuava a sentir sua queda, mais e mais. E via todos aqueles que a olhavam...</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Fora fustigada por uma pergunta inquietante: o que sobra a uma sobra como ela?</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Seu corpo só caííía. </div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Pensa. Pensa. Pensa. Rápido!</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Fechou os olhos. Agarrou o abraço do sol e aceitou aquela dança.</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Faltavam-lhe poucos segundos. </div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Já podia sentir o frio do chão.</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
Foi então que avistou uma senhorinha sentada no banco daquela antiga praça.</div>
<div align="center" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 12.0pt; margin-right: 12.0pt; margin-top: 0cm; text-align: center;">
Ela lia um livro surrado. De folhas
amareladas.<o:p></o:p></div>
<div align="center" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 12.0pt; margin-right: 12.0pt; margin-top: 0cm; text-align: center;">
E elas se olharam.<o:p></o:p></div>
<div align="center" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 12.0pt; margin-right: 12.0pt; margin-top: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 12.0pt; margin-right: 12.0pt; margin-top: 0cm; text-align: center;">
Antes que a folhinha encontrasse a
resposta, acabara repousando sobre o livro. <o:p></o:p></div>
<div align="center" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 12.0pt; margin-right: 12.0pt; margin-top: 0cm; text-align: center;">
E como aquelas palavras lhe faziam bem...<o:p></o:p></div>
<div align="center" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 12.0pt; margin-right: 12.0pt; margin-top: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 12.0pt; margin-right: 12.0pt; margin-top: 0cm; text-align: center;">
A velhinha enxugou a folha. <o:p></o:p></div>
<div align="center" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 12.0pt; margin-right: 12.0pt; margin-top: 0cm; text-align: center;">
Sentiu seu cheiro.<o:p></o:p><br />
<br />
<br />
<br />
<br /></div>
<div align="center" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 12.0pt; margin-right: 12.0pt; margin-top: 0cm; text-align: center;">
Já eram 17 horas.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div align="center" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 12.0pt; margin-right: 12.0pt; margin-top: 0cm; text-align: center;">
Interrompeu a leitura de uma das centenas de cartas escritas pelo seu marido, morto há trinta anos.<o:p></o:p></div>
<div align="center" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 12.0pt; margin-right: 12.0pt; margin-top: 0cm; text-align: center;">
E lá a folhinha ficou.<br />
<br /></div>
<div align="center" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 12.0pt; margin-right: 12.0pt; margin-top: 0cm; text-align: center;">
Sobrando àquelas duas velhas apenas um
doce sentimento de amor.<o:p></o:p><br />
<br />
<br /></div>
<div align="center" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 12.0pt; margin-right: 12.0pt; margin-top: 0cm; text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<i>Por Natália Freitas</i></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<br /></div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<br /></div>
<br />Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-25055293229988248082013-10-11T11:47:00.000-03:002019-07-16T11:54:46.619-03:00Voz rouca<span style="font-family: inherit;">Fogos, ardor, clamor: defesa interna já!</span><br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Psiiiu! ouça, eles riem, ouve-se ao longe<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Outros nem isso<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Calam-se as greves e as Ligas<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Também seus filhos, homens de construção<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">A juventude insiste, resiste... é abatida<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><br />Vermelho, de luta, de sangue<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Mudar<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Apagar<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Silenciar<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Forjar<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Omitir<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Cegar<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Verbos do sim e do sim senhor<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Pais mutilados, mulheres estupradas e também as leis<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Crianças órfãs... de um passado, de um presente e de colo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Muitos a errar, errar por não querer calar, aceitar, exilar<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Numa sala qualquer do
DOI-CODI cai mais um "subversivo"<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">... em casa, uma mãe tira o bolo do forno, prepara o café e
espera a chegada do seu.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;"><i>Por Natália Freitas</i></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-10431832621132084782013-10-11T10:30:00.000-03:002018-02-11T09:37:04.768-03:00Helena de trinta<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Na lira dos seus 10 anos o que Helena mais desejava era ter 15. Balbuciava para si mesma todas as façanhas que realizaria quando esse dia chegasse.</div>
<div style="text-align: justify;">
E ele chegou. Mas a inquietude dos ventos levou seus melhores carnavais.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda sim, não deixou por menos. Viajou, fez amigos, brigou, chorou, sorriu e amou (e como amou).</div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
Não bastava. Sentia-lhe no peito um descompasso incômodo. Era uma estranha a si mesma.</div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
Diariamente, empossava-se em belos trajes e ia trabalhar. Executava iguais movimentos para dias diferentes.</div>
<div style="text-align: justify;">
Pesava-lhe a falta.</div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
Dos livros que leu, dos vinhos que bebeu e, de tudo que escrevera, a falta era presente.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sim, um bocado de falta para um bocado de muito.</div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
Tornou-se habitual em seus ponteiros o observar do movimento alheio. Era-lhe uma missão descobrir o que a ela faltava.</div>
<div style="text-align: justify;">
Em anos seguidos acumulou grande pesquisa. Sabia por A + B o que incomodava aquela vizinha ranzinza. Aprendera, inclusive, a prever as frases feitas que ecoavam da boca dos mais próximos. Porém, a falta continuava se esgueirando pela história.</div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
Um dia Helena sonhou.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sonhou que via duas crianças sentadas embaixo de uma árvore. E que elas riscavam o chão com um galho ao mesmo tempo em que conversavam.</div>
<div style="text-align: justify;">
O sonho era dela, mas, as criaturinhas, de tão petulantes, só permitiram à Helena ouvir suas risadas e os cochichos astutos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Pela primeira vez, Helena sentia que era tamanhamente impossível identificar os reais interesses daqueles seres menores.</div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
Um vento forte sacudira a janela e Helena fora arrancada daquele sonho feliz, que, de tão feliz, mais parecia zombaria.</div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
Repetira, mais uma vez, aquele movimento de vestir roupas e frases.</div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
Era só mais um dia de trabalho e de pessoas? Ao que parece, não. Não decifrar o desejo daquelas crianças lhe forçava uma pausa para o café. Aproximou-se de uma janela que ficava no 12º andar de onde trabalhava.</div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
Transitavam, lá embaixo, muitos automóveis e pessoas. Aqueles bonequinhos caminhavam muito rápido. A ligeireza das caminhadas provocava em Helena a vontade de olhar e olhar. Afinal, eram tantas cores. E como eles dançavam...</div>
<div style="text-align: justify;">
Soprava o café. Puxava um trago de seu cigarro e, de repente, <b>BUUM</b>. Helena era só pensamentos.</div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
Melhor do que o homem aranha, Helena começou a voar entre os prédios. Vira um homem de calças abaixadas atrás de uma árvore fazendo o que bem todos sabem: o número 2. Mais à frente, dois homens velhos discutiam política sentados no banco da praça. Uma menininha de cabelos longos e cacheados lhe sorriu. Eram todos castanhos claros, olhos e cabelos.</div>
<div style="text-align: justify;">
A menina estava com a mãe, mas esta não percebeu o sobrevoo de Helena. Uma piscadela de olhos entre as duas. A piveta vestia um vestido vermelho, sapatos lustrados pretos e meias brancas com babados. Ah, também um laço vermelho fazia parte daquela composição. Mas uma coisa Helena não podia deixar de ver. A criança escondia nos bolsos (e como estavam cheios!) aquelas bolinhas de vidro, típicas de jogos de meninos.</div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
E Helena passou. E o que viu causou-lhe grande incômodo. A composição do cenário era torto. Ali havia aqueles que compravam, mas também os que eram comprados. As enormes chaminés das fábricas cuspiam uma fumaça pesada. Levava consigo os melhores anos de muitos dos que ali laboravam.</div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
- Helena? Helena? Tá surda? Não acha que essa pausa está longa? Volte ao trabalho!</div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>BEI! BUF!</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Por um estante, Helena teve a certeza de que fora puxada pelos pés. O tombo foi forte. E como doeu. Olhou para ver se os cotovelos estavam arranhados. Limpou o vestido. Aquela seda vermelha tinha-lhe custado 2 meses de economias.<br />
<br />
<br />
<i style="text-align: start;">Por Natália Freitas</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-32404206613595651232013-09-09T23:43:00.000-03:002018-11-04T09:05:20.418-03:00O chão que pisamos<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Passamos a vida correndo para realizar os tais sonhos que nos qualificam como pessoas exitosas. Eu não sou a exceção. Desde criança meus pais me indicavam o caminho certo a seguir, aquele que me faria dar certo na vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
Hum... o problema é que só depois, muito depois, eu descobriria que dar certo na vida é muito chato.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pois bem, mas aqui estou. E de dívida nova. Melhor dizendo, apartamento novo (ainda que o coitado não seja tão novo assim). E todo cafofo pede uma transformação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um desejo aqui, outro ali e um devaneio no meio e lá estamos nós passeando por um mundo de menos dinheiro e mais tentativas externas de nos padronizar.</div>
<div style="text-align: justify;">
É uma sala que tem que ser assim. Um quarto que deve ser pintado com a cor da moda. A cozinha que pede esse ou aquele revestimento.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Senhora, isso não se usa mais. Agora esse modelo tá com tudo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Diz pra mim o vendedor da loja.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Magina, isso não combina com aquele piso.</div>
<div style="text-align: justify;">
Responde a mocinha da loja de móveis.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Ah, não?! Mas eu pensei que a casa fosse para eu morar...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sabe, pode até ser apelação minha, mas... não sei... isso tudo me provocou uma vontade danada de saber o que esperamos de um lar. Falta do que fazer? Posso afirmar que não. Se você já passou por essa fase sabe do que estou falando. É bem melhor fazer 1000 abdominais ou ficar ouvindo aquela pessoa irritante te oferecendo o caminho da salvação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E foi o que fiz. Pensei.</div>
<div style="text-align: justify;">
Em pouco tempo, meu arquivo de memórias fora acionado. Como que num instante, lá estava eu, uma piveta de uns 7 anos. E lembrei como era meu quarto. A cama, meus brinquedos, sapatos. Minha estante de bambu. Tudo, tudinho me veio à mente. Emergiu também o cheiro das coisas. De que lado da cama eu costumava dormir. A tabuada embaixo do travesseiro me lembrava do que não podia esquecer. Lembro da minha mãe dizer:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Colocou a tabuada junto com você? Ela vai te ajudar a manter as contas vivinhas na cabeça.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Saí do quarto e fui atraída pelo cheiro bom da carne que assava. Lembro de ter sentido o cheiro das roupas recém estendidas no varal. Era um bailado tão mágico, de cores, tamanhos, tipos de tecidos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Agora eu tinha uns 15 anos. Já morávamos em outra casa. Foi uma fase difícil. Mais parecíamos nômades.</div>
<div style="text-align: justify;">
Desse tempo tenho poucas lembranças. Apenas o "pé de jambo" bem vermelhinho, uma luminária rosa no quarto e o velho fusca na garagem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Minha memória levou-me a outros cômodos, outras casas e outras vivências.</div>
<div style="text-align: justify;">
Abri os olhos e achei ter encontrado a resposta para o que me intrigava. Nos filmes que vi depois disso, nas fotos do(a)s amigo(a)s que olhei, nas janelas dos vizinhos que espreitei e, também, nas portas abertas que teimavam em esquecer-se da violência. Em todos eles ali estavam, bem demarcados, os momentos. Os bons e ruins. Nem mais, nem menos, apenas momentos. Espaços de vida de quem teve/tem história para contar/lembrar.</div>
<div style="text-align: justify;">
E concluí que a decoração não fazemos nós, mas o tempo. É a demarcação do vivido que preenche os espaços de uma casa. Com cores, cheiros e memórias.<br />
<br />
<i style="text-align: start;">Por Natália Freitas</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-44431590120085609662013-01-04T23:19:00.002-03:002018-02-11T09:31:35.763-03:00A alma da casca<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
Muito fácil seria se todo poema terminasse em rima perfeita.<br />
Daquela de afagar o peito por puro conceito.<br />
Mas não.<br />
Poema que se preze corta por intenção.<br />
É a procura de alma para um corpo vazio.<br />
É o sorriso rasgado daquele que esqueceu a viela da felicidade.<br />
Bem longe do bailado parnasiano,<br />
dois quartetos e dois tercetos.<br />
(...)<br />
Poe(mar).<br />
Para além, do quê?<br />
Do verso.<br />
Transpondo o inverso.<br />
Do que te parte, te seca, te esconde sob os lençóis.<br />
(...)<br />
O corpo pede a exatidão das linhas curvas.<br />
O preenchimento daquele "enter" por um entre.<br />
(...)<br />
Sente-se o naufragar dos pensamentos rotos.<br />
Poesia é o vômito dos ébrios da razão metrificada.<br />
É o desconserto do acerto.<br />
Racha a casca.<br />
Arde.<br />
E nos torna mais humanos.<br />
<br />
<br />
<i>Por Natália Freitas</i><br />
<br />Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4857587587227838412.post-64663320432619354592012-11-05T21:28:00.001-03:002019-07-16T12:00:56.132-03:00Mediocridade, dá um tempo!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
Já nem faz tanto tempo assim ou faz?<br />
Minha memória rouca insiste.<br />
<br />
A falha é a melhor demonstração das tentativas. Dela podemos resgatar aquele eu que, por muitas vezes, tentou.<br />
<br />
Mas o dia segue cinzento, como que dizendo:<br />
- Não, eu não te quero.<br />
<br />
Pessoas andarilhas passam.<br />
Passeiam e, até mesmo, estacionam.<br />
O trânsito tomou suas vidas, não tem jeito. Estão engarrafadas.<br />
O sinal parece sempre estar vermelho.<br />
Não há espaço para o sossego, a ousadia e a violência do amor (en)carnecido<br />
(aquele que, de tão suave, enternece e escarneia).<br />
<br />
Queria eu o vibrar de uma garganta poeta.<br />
Mas não, minhas palavras são usadas.<br />
Fracas.<br />
Com sinônimos.<br />
<br />
O que eu desejo? perguntaria você.<br />
Uma injeção de vida para uma veia bem pulsante.<br />
O rasgar da pele, por pura vontade de ter.<br />
O abuso do sorriso zombeteiro.<br />
O frescor daquele cheiro que senti aos cinco anos, quando a vida era toda minha.<br />
<br />
E eu te pergunto, meu caro.<br />
É nessa merda que planejas teu pranto?<br />
<br />
A mim não serve. Devolvo.<br />
Prefiro suar no tempo onde as pessoas burlam as leis criadas pelas hordas da moralidade fétida.<br />
Junto-me aos ácidos de pensamentos, molhados de sentimentos e vulgares de coração.<br />
<br />
<br />
<i>Por Natália Freitas</i><br />
<br />
<br />Natália Freitashttp://www.blogger.com/profile/04139789161337984971noreply@blogger.com2