Los treinta y seis colores de una vida
A falta de habilidade no primeiro beijo oferece a duas pessoas as mais variadas sensações. Na língua parecem habitar todos os espinhos de um tal porco. Na pele, anúncio do caos, gotas de suor brotam por toda parte. As mãos querem, mas não sabem onde tocar. Os olhares tropeçam seguidamente de olhos em olhos; de olhos no chão ou num ponto fixo qualquer. Mas, quando ele realmente acontece, somos tomados de seguida sensação de quero mais.
A segunda-feira começa a duras penas. O corpo pede, melhor, suplica a volta do domingo. Um mau humor inevitável dá o recado: - Melhor ficar na cama, conselho gratuito a essa hora, só o meu mesmo... Mas o sol insiste em sorrir da forma mais ingrata que pode.
Daí, chegamos ao final do dia e percebemos que o sorriso descompromissado de uma certa criança por entre os ombros da mãe e aquele aluno te pedindo uma revisão no trabalho de português (ainda que você seja de história) nos resgataram do que poderia ser só mais uma segunda.
Te incomoda o estranhamento das pessoas onde você mora. Elas sofrem ao dar bom dia. Você então se acostuma. Certa tarde, você passa - ainda que distante - por uma jovem e um senhorinho que não mais anda. Ela o leva para beber os poucos raios de sol existentes naquela hora. Obedecendo às regras, você caminha calada.
Para sua surpresa, ouve um estridente booooooooa tarde saindo de uma boca de poucos dentes e de grande sorriso. Os personagens do Gabriel García Marquez trazem velhotes tarados por mocinhas de vinte anos ou menos, ainda sim, a poesia de suas narrações nos transportam para um universo onde as sensações carnais evocam muito mais cheiro, ardor, cores e sabor - ainda que na cena apenas existam costas nuas, uma fresta de luz e um copo de água de ontem.
Para Eduardo Galeano, a América Latina mais parece uma mulher polaroide: ora de belos cabelos espalhados na grama, ora sangrando após um estupro. Mas é por meio desse movimento que ele nos apresenta em poucas linhas e com figuras toscas a vivacidade de povos que insistem em respirar. Nesse bailado, corremos ao encontro daquilo que nos escapa. Ainda que fechemos as mãos bem forte, ainda que fiquemos com a boca serrada, ainda sim, escapa.
O CONTROLE.
Por Natália Freitas
Fico encantado mesmo com o seu passeio pelos parágrafos com temas diferentes. Quanta intimidade com as palavras. Parece uma jogada de Messi. Tudo tão redondinho, de uma gentileza espontânea. Vou dizer pros nossos filhinhos que o destino me deu a felicidade de ver o Barcelona de Messi jogando e as crônicas de Natália Freitas nascendo. Sou muito feliz por ser teu companheiro. Zeca
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