Monólogo de um grito que não foi
Esta história não pertence a ninguém. Nem mesmo ao tempo. Peço-lhes licença, apenas a tomarei de empréstimo. Mas não eu um corpo. E sim eu, uma vaga. Sim, uma vaga. Porque o dia raiou, mas no meu peito mora uma noite eterna. Olho as pessoas no trânsito. A (a)normalidade é sorrateira. Apregoa na vida de uns tantos homens e mulheres um cenário de ansiedade, reuniões infindáveis, contratos a fechar, mentiras a contar. Não há susto nisso. Não há. O que existe é a falta. Mas, de tanto faltar, a mim também foge. Volto para casa. E o concreto do chão que piso é vagabundo. Ele não assegura o mundo sobre meus pés. No espelho do banheiro um sinal de pressa. Respingos de pasta de dente... - Um momento. Pensei numa coisa agora: por que nunca tive um jardim? Putz, a essa hora e eu pensando em porra de jardim. - Ei, só mais uma coisa: já te passou pela cabeça que essa tua vida pode estar vencida? É, com prazo de validade expirado. De novo, não