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Mostrando postagens de agosto, 2011

Monólogo de um grito que não foi

Esta história não pertence a ninguém. Nem mesmo ao tempo. Peço-lhes licença, apenas a tomarei de empréstimo. Mas não eu um corpo. E sim eu, uma vaga. Sim, uma vaga. Porque o dia raiou, mas no meu peito mora uma noite eterna. Olho as pessoas no trânsito. A (a)normalidade é sorrateira. Apregoa na vida de uns tantos homens e mulheres um cenário de ansiedade, reuniões infindáveis, contratos a fechar, mentiras a contar. Não há susto nisso. Não há. O que existe é a falta. Mas, de tanto faltar, a mim também foge. Volto para casa. E o concreto do chão que piso é vagabundo. Ele não assegura o mundo sobre meus pés. No espelho do banheiro um sinal de pressa. Respingos de pasta de dente... - Um momento. Pensei numa coisa agora: por que nunca tive um jardim? Putz, a essa hora e eu pensando em porra de jardim. - Ei, só mais uma coisa: já te passou pela cabeça que essa tua vida pode estar vencida? É, com prazo de validade expirado.  De novo, não

Entre palavras

Era fim de tarde quando duas palavras se encontraram num parque. O acaso as levara ali. Tudo parecia muito bem. Muitas crianças se faziam presentes. Brincavam de um tudo e desatavam a chorar toda vez que uma mãe aparecia para acabar com a festa. O dia também fazia sua parte, estava bonito que só ele. O encontro das palavras foi muito mais um esbarrão. Uma delas caminhava pelo parque como se buscasse algo. Mas o que era, nem ela sabia. A outra palavra avistara a amiga de longe e, primorosa que estava, correu para tecer o cumprimento. Falou-lhe do quanto havia viajado desde a última vez que se viram. Disse que fora personagem principal de um grande romance; que dera rima a um dantesco poema; que fizera isso e aquilo... Contou à palavra 1 dos tantos projetos que a tomariam nos próximos meses. E falou tanto que nem se apercebeu que as suas palavras fizeram eco no imenso vazio que tomava o peito de sua amiga. E não parou por um segundo sequer. Afinal, havia tanto tempo