Quando chuva



Quando chuva eu era criança. A gente saía da escola correndo e chegava em casa parecendo pintinhos.
A mãe nos dizia, tira essa roupa molhada que é pra não adoecer!
Quando chuva a gente obedecia melhor a mãe porque tudo ficava mais lento e dava até vontade de obedecer. Aquele friozinho esquentava ainda mais o coração.
Quando chuva ela gritava da cozinha, venham comer, a comida tá na mesa!
Mas, quando chuva, a luz também ficava preguiçosa e ia embora. Era quando a mãe enchia a casa de velas e tudo ficava melhor. Os trovões davam medo, mas a mãe tava lá e nada podia nos acontecer.
O telhado mostrava sua gastidão. Aquele monte de buraco fazia a casa ficar toda ornamentada. Era um tal de balde aqui, bacia ali...
Quando chuva até o almoço ficava mais gostoso. Aquele cheirinho de terra molhada acariciava a pouca carne da penela. E não tinha problema, no fundo no fundo, a gente queria mesmo era o momento.
Éramos nós três. Eu, o irmão menor e a mãe.
Quando chuva depois do almoço a gente dormia, e como era bom aquele sono...
Quando chuva a gente acordava preguiçoso, pulava pro sofá coçando os olhos e ia ver o filme da tarde.
Depois disso tudo, a chuva dava adeus e a mãe gritava, vá comprar o pão e leve seu irmão!
Quando chuva a vida se apresentava terna assim: de amor e de bocejos.


Por Natália Freitas

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