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O desfazendo

Era o sol que se abria rasgando o dia de hoje de sua agenda. - Aai, aquela sintonia... de cheiros, cores e sons... Só por hoje, para o dia de hoje, iria desfazer. Desfazer o arquiteto, que arquitetou que tudo tinha que ser arquitetado. Desfazer as lições de casa, culpadas pelas horas de brincadeiras perdidas. Desfazer os acertos, porque os erros são mais aprazíveis. Nos rasgam os joelhos e deixam cicatrizes em belos desenhos. Mais tarde, quando operada toda a desfazança, ela sonharia com um mundo onde crianças pequenas, crianças grandes e, até lesmas, aguardariam com ansiedade o nascer do sol. Da mesma forma, ficariam elas, todas elas, bem quietinhas a olhar a dança do esconde desse velho amarelo. Por Natália Freitas

Quando chuva

Quando chuva eu era criança. A gente saía da escola correndo e chegava em casa parecendo pintinhos. A mãe nos dizia, tira essa roupa molhada que é pra não adoecer! Quando chuva a gente obedecia melhor a mãe porque tudo ficava mais lento e dava até vontade de obedecer. Aquele friozinho esquentava ainda mais o coração. Quando chuva ela gritava da cozinha, venham comer, a comida tá na mesa! Mas, quando chuva, a luz também ficava preguiçosa e ia embora. Era quando a mãe enchia a casa de velas e tudo ficava melhor. Os trovões davam medo, mas a mãe tava lá e nada podia nos acontecer. O telhado mostrava sua gastidão. Aquele monte de buraco fazia a casa ficar toda ornamentada. Era um tal de balde aqui, bacia ali... Quando chuva até o almoço ficava mais gostoso. Aquele cheirinho de terra molhada acariciava a pouca carne da penela. E não tinha problema, no fundo no fundo, a gente queria mesmo era o momento. Éramos nós três. Eu, o irmão menor e a mãe. Quando chuva depois do almoço a g

Pulso

                                                                                                                O escuro por não suportar o claro Descer degraus por não conseguir subi-los É a mente confrontada pelo espírito                                                                                                                 ... como que um martelo à parede ... e ela cruzou mais uma rua    Danou-se na danação do dia E por lá ficou O corpo eletrizado E um pulso infeliz que não descansava-lhe os ouvidos Ouve? Mãos suadas, boca seca Era o momento oportuno para uma dança Tomou os pensamentos pelos braços, fechou os olhos e dançou E o vento soprou E o sol ardeu E o chão rasgou-lhe as solas dos pés Sangrou Chorou, chorou, chorou As lágrimas secaram em seu rosto (...) Ah, aquela música...  (...) E o sopro soprou-lhe maresia Agradeceu Bebeu E devolveu ao mundo um sorriso vertiginoso.  Por Natál