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Obedeça

Vá embora se não conseguir lidar com minha chatice E meus cabelos inequivocamente lindos Se não souber me abraçar quando eu tentar fazer de você meu ninho Vá se não entender minha fúria nos dias turvos Se não conseguir ler a mim, poesia dadaísta Bata a porta se eu continuar sendo mais do que você suporta Mude de calçada quando me vir e suas mãos anunciarem seu permanente amor Desligue seu celular. Ele também sabe pra quem você quer ligar Jogue fora aquela carta que não te escrevi. Você não a entenderia Me arranque dos seus sonhos se puder E esqueça que seu melhor sorriso já fui eu Não levante hoje buscando meu rosto preguiçoso Engana-se! Seu lugar nunca foi dentro de mim Abandone o desejo daquele filme que veríamos esse sábado Fique sem graça quando nossos amigos te disserem "vacilão" Porque é precisamente isso! Eu daqui farei o mesmo Já troquei os lençóis e aquela almofada sua de lugar Uma nova playlist. E novo lugar na cama E sabe sua camisa preferi

Bem de altitude

Aprendi a voar desde muito cedo. E, de tempos em tempos, preciso me puxar pelos pés. Por vezes esqueço, e me dano a subir, subir, subir. Por Natália Freitas

Língua

Mulher, substantivo que bem poderia ser verbo. Ou advérbio de intensidade. Para ambos, mulher seria signo para dizer sobre aquilo que é vívido, nobre, intenso, exemplo, voraz, doce, sábio, belo. Mulher movimento, mulher ação. Qualidade de ser mulher. "Mulheriei o dia e ele me mulheriou de volta" "Estudei mulhermente hoje" "Mulheriaram Paris num só gole " Na próxima reforma linguística, irei pessoalmente reivindicar tal inclusão. Que, de tão digna, vai deixar as aulas de português mais mulher. Poetas terão um novo recurso para materializar em letras a explosão de sentimentos ainda sem título. Mulheriemos! Por Natália Freitas

Locatário

Volta. Você esqueceu de se levar de dentro de mim. Por Natália Freitas

Sinopse

Ato I Antes era a brecha. Intermediada pelo caos. Um assombro de paz. E uma janela aberta. História não escrita. Gestos gastos. Uma esquina. Chão pisado de pedra sabão. Seis casas até o céu da amarelinha. Pulou uma. Outra. E outra. Chuva que ganhou o jogo. Escorre giz. Escoooorre. Ato II Faxina no armário. Levou o que cabia no tempo. Daquela bolsa velha, apenas um zíper pra tragar as expectativas. Um amor de querer: pular, beijar, amassar, molhar. História mal escrita. Varreu os cacos. Pra debaixo do tapete. Canção ensaiada de não. Ato III Ela não era só forte. Não queria. Não podia. Foooorte. Era aquilo tudo. Aquilo pouco. Aquilo muito. E era. Também, só ela. Estava quase lá. Sendo dela. E o mundo disse: -pera aí, tá indo aonde? Ato IV Estava ali no meio do salão. Rodopiava ... piava. Não lhe era difícil sentir a gota de suor que escapava pelas costas. A saia giraaaava. Olhos fechados. Sentia. Tudo podia ser assim, tão simples. Um corpo

Um risco

                                                                                          há um encanto em suas linhas um punho que apruma e ruma ao novo giro e mais giro. e outro giro. tu te mostras extrapola os teus círculos. posso sentir caligrafia obedecida voz empostada sobraram as brechas preenchidas pelas deformidades avulsas incoerentes tangentes de um mesmo caminho solitário que une a todas nós somos letra pra fazer poema somos alfabeto pra fazer revolução   Por Natália Freitas

Cabrita solta

Há tantas elas em mim Negras há Indígenas também Há tantas elas em mim Amasiadas Largadas Amadoras Rasgadas Sabedoras Há tantas elas em mim E por todo lugar que passo Uma delas tá ali Em dia de sol danado Solta o aço dos dentes Há tantas elas em mim Passeia molhada e descalça De ventre esguio e cabelos maremotos Há tantas elas em mim Saiu sozinha na madrugada Quebrou regras, vielas Ergueu o copo limpo questionável Brindou à morte, aos orixás, à vida kalunga Há tantas elas em mim E não há nenhuma Que detenha Explique Defina Nesse mundo todo Quem delas mais assobia: Muié, eu to aqui Por Natália Freitas